A cada escolha, uma renúncia

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“Escolha”, uma simples palavra que no dicionário significa: preferência que se dá a alguma coisa que se encontra entre outras; predileção. As escolhas acontecem a todo momento. Em algumas situações, elas acontecem de forma automática, e embora exista um processo mental para que elas ocorram, é possível que a sensação seja de que nem houve um pensamento especifico, para efetuar tais escolhas, como por exemplo: levantar ao acordar.

E neste automatismo que permeia a vida, existe algo que pode passar despercebido: o outro lado das escolhas, ou seja, as renúncias. Como no exemplo citado, junto com o ato automático de levantar ao acordar, também há a renúncia em ficar um pouco mais na cama, porém ela não é notada. Com isso, pode acontecer que no decorrer do dia apareça uma sensação de insatisfação ou desconforto inexplicável.

Se as escolhas acontecem o tempo todo, como são feitas? Elas podem acontecer de forma racional, muito bem pensadas, estudadas e com todas as variantes avaliadas ou automaticamente; também podem ser de forma passional, tomadas por impulso, no calor da emoção. Tem-se ainda a forma como diz a música: “Deixa a vida me levar…”, aquela que quando o sujeito não escolhe, a vida escolhe por ele: a vida de pai, mãe, esposa, marido, enfim…, a lista é extensa.

Qual é a garantia de que aquela escolha é a certa ou a mais adequada, e que o resultado vai ser o esperado? Afinal, existe alguma garantia? E este desconforto inexplicável, é possível evitá-lo? Estes questionamentos podem servir para exercitar o pensar, o refletir. E para encontrar respostas é preciso parar por alguns instantes e prestar atenção em si mesmo. E essa não é tarefa das mais fáceis.

Mas é só através desse “olhar para si” e do “brotar das respostas” que estão bem guardadas do lado de dentro, é que poderão surgir possibilidades de escolhas conscientes e equilibradas entre racional e emocional e, sendo assim, o sujeito poderá tomar as rédeas da própria carruagem, ciente de que seja qual for o resultado da escolha, ele irá se responsabilizar por ele por suas consequências.

No exemplo citado, se o indivíduo escolhe levantar ao acordar e está ciente da sua renúncia em ficar na cama, mesmo que fique insatisfeito, estará consciente do motivo e poderá escolher novamente se vai querer ou não continuar neste estado de insatisfação. A partir do uso da capacidade de ser responsável por suas escolhas, o sujeito se fortalece perante a vida. Passa a perceber que, apesar de não existirem garantias, é possível considerar que também não existem fracassos e, sim, resultados não esperados, que se tornam experiências e aprendizados.

Como no jogo de xadrez, o jogador estuda e avalia o resultado que o movimento de determinada peça vai causar, pois cada movimento escolhido deixa de lado inúmeras outras possibilidades. Porém, mesmo com todo estudo e estratégia escolhidos, as variantes do jogo são grandes e o resultado poderá não ser o desejado. Para o jogador consciente de suas escolhas, esse resultado não esperado se transforma em aprendizado, que certamente vai nortear uma nova jogada.

Por meio do processo analítico, o sujeito pode passar a prestar atenção em si mesmo, a entender os movimentos em sua vida e a se fortalecer, tendo a chance de fazer escolhas que podem ou não ser diferentes das anteriores, mas certamente serão mais conscientes.

Iara Solange

Psicanalista

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