A História do Movimento Psicanalítico

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No dia 06 de maio comemoramos em todo o mundo, o aniversário de Sigmund Freud, criador e pai da Psicanálise.

Quando se fala em Psicanálise, logo se pensa em relações entre pais e filhos, Complexo de Édipo e claro, em sexualidade. Quem nunca ouviu expressões como: “fulano é um neurótico”, “beltrana é uma histérica”, “deixa de paranoia”, ou ainda: “ai, acho que eu tenho Complexo de Édipo”, “tudo é culpa da mãe”, sem contar a clássica: “Freud explica”. O fato é que estas expressões, utilizadas corriqueiramente pelo senso comum, são fruto de uma longa e exaustiva observação clínico-teórica empreendida pelo médico vienense Sigmund Freud há quase dois séculos. Se hoje nos deparamos com tais conceitos em nosso dia-a-dia, seguramente é porque em sua origem eles foram embasados e divulgados amplamente, a despeito daqueles que sempre ao se depararem com novas ideias, primeiramente as refutam e procuram desmascará-las. Mas como tudo começou?

A Psicanálise foi criada por Sigmund Freud no final do século dezenove, e suas bases abalaram o mundo e a sociedade da época. No entanto, a força de suas ideias e de seu trabalho clínico foram contundentes para que a Psicanálise ganhasse o respeito e a aceitação necessárias, não apenas por parte da comunidade médica, como também de outros segmentos acadêmicos. Quando Freud escreveu o artigo sobre A História do Movimento Psicanalítico, em 1914, sua intenção era mostrar à sociedade da época, os postulados que faziam parte da Psicanálise, bem como demonstrar que algumas teorias criadas por alguns de seus discípulos, a saber, Adler e Jung, eram incompatíveis com a teoria psicanalítica, e, portanto eles deveriam denominar as mesmas com nomenclaturas diferentes.

Primeira fileira: Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung; segunda fileira: Abraham Brill, Ernest Jones, Sandor Ferenczi. Universidade de Clark, em Massachusetts, nos Estados Unidos, em Setembro de 1909. Fonte: Wikipedia

O primeiro período do movimento psicanalítico vai até 1902, época em que Freud trabalhou sozinho, e por conta disso, conseguiu extrair algumas vantagens. Não precisava ler determinadas publicações, nem realizar embates com adversários de suas ideias; não precisava se preocupar com reuniões, datas e encontros inconvenientes. Com isso ganhava tempo para burilar suas teorias e refinar sua prática clínica. De 1902 a 1910, a psicanálise ganha espaço em outros contextos e meios acadêmicos. Neste período inúmeros acontecimentos culminaram em algumas deserções.
A primeira grande parceria de Freud foi com Joseph Breuer (1842/1925), um médico austríaco que desempenhou um papel muito importante nos primórdios da Psicanálise. Freud e Breuer escreveram o livro “Estudos sobre a Histeria”, no qual narraram o caso clínico de Anna O. Para realizar este tratamento eles se valeram do método catártico. O referido método, desenvolvido por Breuer, buscava acessar os sintomas dos pacientes histéricos a partir de fragmentos do seu passado. Estes fragmentos estariam associados a cenas, fatos e emoções – na maioria das vezes traumáticos – que haviam sido esquecidos. O objetivo da intervenção era fazer com que o paciente rememorasse e revivesse essas experiências através de um estado hipnótico. A catarse pode ser definida como uma descarga de emoções e afetos represados. Freud e Breuer divergiam quanto à etiologia do transtorno psíqui

Édipo e a esfinge (Oedipus et Sphinx), 1808, pintura de Jean Auguste Dominique Ingres; Paris, França.

co da histeria. Para Breuer a explicação estaria apoiada numa abordagem fisiológica, diferentemente de Freud, que destacava a importância dos elementos psíquicos e da sexualidade na gênese dos processos neuróticos. Além disso, Freud percebeu que a intervenção através da hipnose, nem sempre garantia o sucesso do tratamento, gerando muitas resistências e provocando o retorno deslocado de alguns sintomas extintos. Dessa forma, Freud abandona a hipnose e inicia efetivamente sua “talking cure”, ou seja, a cura através da conversa. Outros personagens importantes foram Charcot e Chrobak, ambos considerados por Freud como “mestres”.

As ideias de seus mestres, embora não diretamente, foram muito importantes para que Freud percebesse a importância da sexualidade para o psiquismo humano. Charcot era um psiquiatra que desenvolvia um pioneiro trabalho de hipnose com histéricas e Chrobak era um renomado ginecologista que mantinha relações sociais com Freud. Quanto à etiologia sexual das neuroses, inúmeros fatores se somaram às pesquisas de Freud, tanto com relação à técnica quanto com relação aos resultados esperados de uma análise, e alguns destes fatores são: a descoberta da transferência, o uso das associações livres de ideias, o reconhecimento da sexualidade infantil, a utilização dos sonhos como a “via régia para o inconsciente”, a representação dos chistes, lapsos e atos falhos para os pacientes, a resistência, os mecanismos de defesa, a teoria do recalque – considerada “a pedra angular da psicanálise” por Freud – e muitos outros conceitos estabelecidos.
Freud estrutura a etiologia das neuroses postulando a chamada teoria da sedução. Esta teoria dá conta de que entre a criança e o adulto ocorre um assédio sexual, sem a excitação consciente por parte da primeira, devido a insuficiência de condições somáticas de excitação para consumar o ato. Na puberdade, a cena traumática da infância ganha outra representação, seguida de uma excitação sexual que impele o indivíduo a estabelecer o recalque de tal lembrança.

Freud, em 1897, abandona essa teoria, julgando-a inverossímil, e apresenta uma nova, intitulada “Complexo de Édipo”, significando que os sintomas não estariam associados a fatos reais, mas sim a fantasias. Criou então o conceito de realidade psíquica, permeada por fantasias, às quais, por sua vez, proporcionariam a representação ligada à vida sexual.
Freud, por ser judeu, estava preocupado com o fato de que a Psicanálise pudesse ser associada unicamente a uma teoria judaica, o que fez com que investisse em um de seus discípulos, C. G. Jung, homem mais jovem, sem laços com o Judaísmo e que naturalmente ocuparia seu lugar depois de sua morte. Freud não imaginava que, em suas palavras “esta seria a escolha mais infeliz possível”. Desse modo, Freud resolve fundar a IPA (Associação Internacional de Psicanálise) cujo objetivo era “promover e apoiar a ciência da Psicanálise”. Jung foi nomeado presidente da associação. Mas as ideias de Jung não são aceitas por Freud e os dois rompem relações em 1913.

Finalmente Freud arremata sua visão histórica da Psicanálise declarando que “os homens são fortes enquanto representam uma ideia forte; se enfraquecem quando se opõem a ela”.Mas como se encontra a Psicanálise hoje? Alguns movimentos tem obtido maior espaço no âmbito didático, como por exemplo a Psicanálise Kleiniana, baseada nas teorias de Melanie Klein, a Winnicottiana, inspirada no trabalho de Donald Winnicott, a Lacaniana, representada pelo trabalho hercúleo realizado por Jacques Lacan, responsável pelo resgate das ideias freudianas, e muitas outras embasadas em psicanalistas do calibre de Wilfried Bion, Françoise Dolto e Juan David Nasio.

Sigmund Freud, janeiro de 1935.

Embora existam inúmeras ramificações e propostas teóricas dentro do ensino em Psicanálise, a nossa, o IBCP Psicanálise, é ir ao encontro das ideias originais de Sigmund Freud, buscando externalizar seu cabedal e contribuir para a construção de um mundo mais justo e Ético.

Anderson Barros
Psicanalista e Coordenador do IBCP Psicanálise

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