Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?
porO desfecho da atual greve, aparentemente, se apresenta. São nove dias de bloqueios em estradas de todo o país, filas de veículos em postos de gasolina e interrupção do transporte de mercadorias que resultaram em prejuízos exorbitantes e que estão longe de se extinguir com o acordo e as medidas provisórias enunciadas pelo atual presidente, Michael Temer. No cenário em que se apresentou o movimento, o resultado foi muito além do esperado. Fazia muito tempo que o sono do maior país da América do Sul não era tirado por um movimento de classe como este. A insegurança que bateu à porta de todos os brasileiros mostra que a economia nunca foi tão exposta. A ciência da escassez apresentou seu verdadeiro significado.
Outrora, apenas em tempos de guerra, guardadas as devidas proporções para o momento, as pessoas perceberam que o dinheiro não tem tanto valor quando não há o que se comprar com ele. A realidade que está sendo vista está longe de ser a que os vizinhos latinos estão enfrentando, mas já serviu de experiência para perceber o quanto a sociedade brasileira é frágil; o quanto está inserida em uma bolha confortável que os impede de perceber o que realmente está acontecendo. O funcionamento da máquina social, com suas engrenagens justas e precisas, foi prejudicado por uma deterioração, associada ao mau uso.
Analisando o conflito, percebe-se que há uma reivindicação diferente daquela que foi atendida no domingo do dia 27 de maio. O escopo dessa manifestação é uma insatisfação que há muito tempo existe; contudo, não é possível soprar as caravelas de Cabral de volta ao mar. A política imediatista e de interesse setorial sempre foi plataforma de campanha; o que está sendo vivenciado hoje, além de ser um resultado previsto e ignorado, corrobora com a tradição histórica nacional.
A nação tem pouca capacidade de suportar as frustrações que lhe são impostas. O olhar para o passado expressa mágoa e rancor; a depressão, o desespero e a desesperança são sinais que denunciam a imaturidade em lidar com as experiências acumuladas. Ingratidão, outra manifestação muito comum que resulta em destruição e agressividade. Do governante, figura eleita por todos, também por aqueles que não votaram nele e que fazem parte do sistema democrático, não é esperado uma medida de administrador, mas sim de um pai. Um pai que se submete a todas a exigências dos filhos com o receio de perder o amor deles. Como isso não acontece, a birra e a revolta continuam. Ainda bem distante do princípio da realidade, está sendo negado completamente que o resultado dessa destruição irá acarretar, democraticamente, em sérias consequências para todos.
A patologia da nação é a somatória de todas as individualmente existentes. Perversão pública que há muito também vem sendo observada nas atitudes antissociais de cada um. A equação básica para qualquer país ser forte é: esforços individuais somados a coordenação consciente resultando em benefícios para todos. O que impera desde a monarquia é a arte de se exigir dos outros aquilo que não se pratica.
A mudança que se espera do coletivo deve iniciar onde o efeito pode ser observado de forma imediata, ou seja, no indivíduo. A ética flui em uma sociedade na qual os pais são forte e não terceirizam a responsabilidade da educação de seus filhos; onde a negação de um suborno não é pautada pelo medo da punição, mas por um senso moral e coletivo.
A psicanálise acredita em mudanças que são construídas por um caráter forte, o qual tira ensinamentos do que foi experienciado e busca resultados diferentes a partir de atitudes diferentes.
Os homens são fortes enquanto representam uma ideia forte; enfraquecem-se quando se opõe a ela
Sigmund Freud
Arnaldo Rodrigues
Psicanalista